"Dor de Cabeça"
terça, 26 de junho de 2018
DIAS SOMBRIOS PARA A ARGENTINA DE MAURICIO MACRI
Greve, que paralisou o país é resposta ao "tarifaço" de maio e à desvalorização do peso, que deve acelerar a inflação
Fonte: Por João Batista Natali / dcomercio.com.br – Foto: Reprodução (crédito: Maxi Failla)
Os dias não têm sido nada gloriosos para a Argentina, paralisada nesta segunda-feira, 25 de junho, pela terceira greve geral, desde que o presidente Mauricio Macri foi eleito, em dezembro de 2015.
Existem sólidas razões econômicas e políticas e um inevitável oportunismo sindical por detrás da paralisia.
Mas o que também conta é o choque de autoestima, com o empate contra a Islândia (1 x 1) e a derrota contra a Croácia (3 x 0).
E ainda tem, nesta terça, 26/6, um jogo difícil contra a Nigéria.
É claro que o futebol corre em faixa própria nos caminhos da crise argentina.
Mas o país deixou de amar a si mesmo com os desastres do técnico Jorge Sampaoli e com a impossibilidade de Lionel Messi, isoladamente, reverter o pessimismo.
Os sindicatos, sobretudo a central peronista CGT, que apoia em 2019 a candidatura da ex-presidente Cristina Kirchner, foi o primeiro a convocar a greve desta segunda-feira, e por motivos que fazem sentido.
Os dissídios coletivos na Argentina acontecem por volta de abril, e a última rodada se baseou em uma previsão da inflação de 15% até o final do ano.
Mas a inesperada desvalorização do peso, em 30%, abria o cenário de um forte arrocho salarial.
A Argentina sofreu, na segunda metade do semestre, uma fuga de capitais.
Sem reservas em dólar para salvaguardar sua moeda, a única solução para o governo foi recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
A rigor, aquela organização e Macri compartilham dos mesmos valores em política econômica, sobretudo quando se trata de equilíbrio fiscal.
Mas o FMI é uma bandeira diabolizada pela esquerda peronista.
Ela evoca a tragédia que ocorreu em 2001, quando o peso se descolou do dólar e o país caiu no maior buraco de sua recente história.
Não é Mais Bem Assim
Foi de pouca utilidade o esforço do presidente argentino ao argumentar que aquilo que acontecia agora não tinha a mais leve semelhança com o fim traumático da dolarização, adotada pelo ex-presidente Carlos Menen (a Argentina deixou de ter dólares em quantidade para manter a paridade).
O fantasma voltou a circular, com um peso ideológico semelhante ao da derrota contra a Croácia.
Somem-se a isso um conjunto de outras más notícias: o desemprego está em alta (9,1%, contra 7,2 no último trimestre de 2017), e a própria popularidade de Macri, que caiu para 35%, frente a 58%, em outubro.
Naquele mês, o presidente argentino obteve uma razoável vitória nas eleições legislativas parciais (o Congresso não é eleito de uma só vez).
Não chegou ainda a conquistar a maioria.
Mas contava com o apoio dos peronistas de direita, que nas presidenciais de 2019 preferem, no fundo, Macri a Cristina.
Ora, até esse grupo oficioso de governistas também debandou.
E a debandada aconteceu em maio, com o projeto do governo que elevou o transporte urbano e as contas de gás e eletricidade.
Em verdade, um “tarifaço” anterior já havia ocorrido, quando Macri tomou posse e pôs fim aos subsídios de bens de consumo essenciais, que provocavam déficits orçamentários monstruosos nos tempos de Cristina Kirchner.
A questão se tornou, desde então, fundamental nas discussões sobre o papel do Estado na Argentina.
Ou ele engordava, para subsidiar os mais pobres, ou então ele emagrecia, e o mercado encontrava o ponto de equilíbrio dos preços e tarifas.
Era, no fundo, uma queda de braço, em que Macri convencia a imensa e poderosa classe média argentina, de que sua política era a mais realista e viável.
O jogo estava equilibrado ou favorável ao governo até que veio a portentosa pressão sobre o peso, que encarece as importações e impede que a inflação chegue em dezembro ao ponto mais distante dos 40% herdados de Cristina.
Aventura dos Lebac
Esse problema tem nome e sobrenome.
Chama-se Lebac. É a abreviação do nome de um título chamado Letras do Banco Central.
A coisa funcionava, resumidamente, assim: o governo emitia esses títulos de curtíssimo prazo, pagando juros anuais de 29%.
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